Se vocês me deixarem,
paro sob a luz e
obscureço;
vou depressa abnegar o presente,
protestar contra o típico,
desprezar o útil;
vou esquecer a história
e colecionar metáforas.
Escrever no escuro,
pensar poeticamente
como pensam os analfabetos
e acham que pensam os arrogantes;
vou usar a linguagem
do tamanho da imaginação
de quem escolhe
flutuar a aprender
algo que leve a dizer:
Sou alguém.
(Se tivessem suas vidas sido boas,
vocês saberiam de cor
seus próprios poemas
e não teriam função nem sentido,
mas seriam únicos
e, talvez,
ficassem hoje
à vontade.)
Se vocês me deixarem,
prefiro não me reconhecer
nessa corja feliz;
nada, porém, me impede de escrever
com uma vara de pesca
que me faça
escolher as palavras.
Como se eu pudesse
descer ao fundo do mar
com os olhos fechados
e assim mesmo
deslizar pelos corais
e voltar à tona
com as mãos e a mente
cheias de pérolas.
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